Crescimento Imobiliário na Paraíba Expõe Desafios no Abastecimento de Água e Saneamento Básico

Artigo por Rômulo Soares


Nos últimos anos, a Paraíba tem registrado um significativo crescimento no setor imobiliário, com a construção de novas unidades habitacionais em diversas regiões do estado. Esse avanço, impulsionado por programas governamentais como o Casa Verde e Amarela (antigo Minha Casa, Minha Vida), visa atender à crescente demanda por moradia e fomentar o desenvolvimento urbano. No entanto, a expansão acelerada tem revelado um grave problema: a falta de infraestrutura básica, especialmente no que diz respeito ao abastecimento de água potável e ao tratamento de esgoto, impactando diretamente a qualidade de vida dos moradores.

Expansão Imobiliária e Pressão por Infraestrutura

O boom imobiliário na Paraíba tem sido mais evidente em cidades como João Pessoa, Campina Grande e municípios vizinhos, onde novos conjuntos habitacionais e condomínios horizontais têm surgido em áreas antes consideradas periféricas. Esses empreendimentos, muitos deles voltados para famílias de baixa renda, prometem modernização e melhores condições de vida. No entanto, a infraestrutura necessária para sustentar esse crescimento não tem acompanhado o ritmo das construções.

O principal desafio está no abastecimento de água. Apesar de o estado contar com sistemas robustos de captação e distribuição, como o Sistema Adutor do Agreste, a infraestrutura existente não tem sido suficiente para atender às novas demandas. Em muitos bairros recém-desenvolvidos, os moradores dependem de soluções paliativas, como poços artesianos e caminhões-pipa, especialmente durante períodos de estiagem prolongada, comuns na região semiárida. Essa realidade gera desabastecimento frequente e insatisfação entre os residentes, que veem suas necessidades básicas negligenciadas.

Saneamento Básico: Um Problema de Saúde Pública

Além da escassez de água, a falta de tratamento de esgoto tem se tornado um problema crítico. Em muitos bairros novos, a infraestrutura de saneamento básico ainda não foi implantada, resultando no lançamento de esgoto a céu aberto ou na ausência de redes de esgoto nas residências. Essa situação não só compromete o meio ambiente, mas também representa um risco à saúde pública, favorecendo a proliferação de doenças como diarreia, hepatite e leptospirose.

As autoridades municipais e estaduais têm buscado soluções, como a ampliação das estações de tratamento de esgoto e a aceleração de obras de saneamento. No entanto, o ritmo do crescimento urbano tem superado a capacidade de execução desses projetos, deixando milhares de famílias sem acesso a serviços essenciais.

A Urgência de um Planejamento Urbano Integrado

Para que o crescimento imobiliário na Paraíba seja sustentável, especialistas destacam a necessidade de um planejamento urbano mais integrado e eficiente. O poder público deve antecipar as demandas por infraestrutura antes de autorizar novos empreendimentos, garantindo que os serviços básicos estejam disponíveis desde o início. A colaboração com o setor privado também é fundamental, com empresas assumindo maior responsabilidade na oferta de serviços essenciais ou no apoio às iniciativas públicas.

Além disso, a adoção de tecnologias sustentáveis, como sistemas de captação de água da chuva e tratamento de esgoto em pequena escala, pode ajudar a reduzir a pressão sobre os sistemas públicos e promover um uso mais eficiente dos recursos hídricos. Essas medidas são vistas como alternativas viáveis para garantir que o crescimento urbano não comprometa a qualidade de vida da população.

Um Futuro em Construção

O crescimento das unidades habitacionais na Paraíba é um reflexo do desenvolvimento econômico e social do estado, mas também expõe desafios estruturais que precisam ser enfrentados com urgência. A escassez de água e a falta de saneamento básico são problemas que demandam ações coordenadas entre o poder público, o setor privado e a sociedade civil. Somente com um planejamento urbano mais eficaz e focado na sustentabilidade será possível garantir que o sonho da casa própria não se transforme em um pesadelo de infraestrutura precária e serviços insuficientes.

A promessa de um futuro melhor para os moradores da Paraíba depende, portanto, de um compromisso coletivo em oferecer não apenas moradias, mas também condições dignas de vida, com acesso a água potável, esgoto tratado e saúde pública preservada.