O fenômeno de sonhar, dormindo ou acordado – Por João Teodoro

É comum em época de fim de ano as pessoas assumirem “compromissos” morais de que, no próximo ano, farão algo que vem sendo deixado de lado: emagrecer, comer menos, mudar de emprego, viajar. Enfim, realizar algo com que vêm sonhando. Mas, como assim? Para sonhar, não é preciso dormir? Sim, para sonhar, literalmente, é preciso dormir. Porém é possível sonhar acordado, ainda que metaforicamente. Isso acontece quando estamos meditando e divagando sobre o que já fizemos, o que estamos fazendo e o que ainda almejamos fazer.

Diversas religiões mantêm, desde sempre, a crença de que os sonhos são revelações. Ainda hoje, é comum ouvir pessoas prevendo acontecimentos com base nos próprios sonhos. Estes assumem caráter profético, uma espécie de aviso do além. A Bíblia relata, em variadas passagens, revelações divinas feitas por meio de sonhos. Segundo o espiritismo, os espíritos podem comunicar-se conosco por meio de sonhos. A neurociência tenta explicá-los cientificamente. Mas o que conta é que todo e qualquer tipo de sonho tem poder transformador.

Eu próprio, quando militei na área de informática, resolvi muitos problemas durante o sono. Dormir sem solucioná-los me parecia trágico. Assim, mesmo dormindo, eles permaneciam latentes em minha mente e, não raro, a solução me aparecia como num passe de mágica. A história relata que Paul McCartney dormia na casa de sua namorada, Jane Asher, em Londres, quando uma melodia martelava insistentemente em sua cabeça. Era a música Yesterday que, embora tenha sido letrada meses depois, foi um dos grandes sucessos de Os Beatles.

A pergunta que não cala é: pode-se sonhar com algo que não existe, coma a música de McCartney? Sim, diz a neurociência. Não se trata de futurologia. Durante o sonho, nosso cérebro livra-se das amarras da racionalidade. Com isso, abre-se um manancial de criatividade e imaginação. É o que diz Tore Nielsen, pesquisador de Sonhos e Pesadelos da Universidade de Montreal, Canadá. “Sonhos refletem probabilidades coincidentes ou não com o comportamento real das coisas”, afirma Sidarta Ribeiro, neurocientista da Universidade Federal do RN.

Todavia sonhar acordado é o que nos interessa. Esse é o fenômeno que alimenta o trabalho dos Corretores de Imóveis: o sonho da casa própria. O dicionário Houaiss (2001) descreve o sonho diurno como um enredo imaginativo, quando o indivíduo está em estado de vigília. É o mesmo que sonhar, em sentido figurado: imaginar-se na condição de; ver-se; desejar com insistência; admitir a possibilidade de; prever; supor; imaginar (algo). Como é fácil deduzir, sonhar com o imóvel próprio é, nada mais, nada menos, do que o desejar ardentemente.

No livro Na presença do sentido, Ed. Pompéia (2004), o autor afirma que “por trás de todo sonho há uma força, uma possibilidade e uma energia de ser”. Por óbvio, ele se refere ao sonho-desperto, que dá significado às coisas por meio de quem “sonha”. Trata-se de instrumento humano e real, utilizado na consecução da realidade. Mas o autor adverte: “o sonho acordado pode morrer ou ser destruído, por diversos motivos, embora persista a capacidade de sonhar”. Por isso, o corretor de imóveis tem de saber despertar e manter vivos os sonhos de seus clientes.

Presidente do Cofeci – João Teodoro