Corretora de imóveis desde agosto de 2020, Melissa Kettley é uma das poucas mulheres que fazem parte dos 4% da população trans com empregos formais em todo o Brasil. Atuante no mercado imobiliário paraibano, ela diz ter sido escolhida pela profissão.
“Eu não escolhi ser corretora, a profissão que me escolheu. Desde o período da faculdade sabia que estava no caminho certo, agora galgando e firmando meu espaço como profissional”, destacou com orgulho.
Fazer parte dessa ínfima porcentagem frente à uma população numerosa que existe em todas as regiões do território nacional, é viver uma luta que perpassa as barreiras sociais e adentra a própria categoria de corretores de imóveis.
“Perante à sociedade, me sinto mais uma daquelas que já passaram e passam, cotidianamente, pelo enfrentamento à discriminação por causa da identidade de gênero”, afirma Melissa.
Vivendo no país que, de acordo com a ONG Transgender Europe, é pelo 13º ano o que mais mata pessoas transexuais e travestis no mundo, a corretora ressalta o quão fundamental é ser vista, ouvida e incluída nos espaços de trabalho. As oportunidades e manutenção desse grupo no mercado é uma das ferramentas que contribui com o processo de humanização dessa população tão marginalizada.
O Creci-PB foi pioneiro em formar a primeira Comissão de Diversidade Sexual e Gênero dentre todos os demais Regionais. Melissa, que hoje coordena a Comissão, descreve a atuação junto à categoria.
“Me sinto acolhida pelo Conselho, primeiro como profissional e depois como coordenadora. Contribuo do meu lugar de fala para que tenhamos uma sociedade mais justa e igualitária, que respeite as orientações sexuais e as identidades de gênero”, declara.
Para ela, esse pioneirismo revela o quanto é importante debatermos assuntos voltados ao grupo LGBTQIAP+ pautados pelos corretores de imóveis, pois temos profissionais parte dessa população ou que necessitam dialogar com este público nos negócios imobiliários.
Ações do Conselho
Em janeiro de 2022 será a segunda edição em que o Creci-PB realizará a entrega de cartazes confeccionados sobre a Lei estadual 10.909/2017, alusivo ao 29 de Janeiro – Dia da Visibilidade Trans, para todos os estabelecimentos públicos e privados, enfatizando às imobiliárias, construtoras, escritórios, entre outros espaços de conscientização para a não discriminação à orientação sexual e identidade de gênero.
Futuro
Melissa sonha não só com um futuro melhor, mas em viver um presente com pessoas que pensem com o subsequente. “O machismo, o sexismo e a misoginia, historicamente, fazem parte da nossa cultura. Nós, corretoras de imóveis, também somos vítimas, principalmente, no ambiente de trabalho ou no exercício da profissão. O ideal é que mais pessoas trans (travestis, mulheres transexuais e homens trans) sejam formadas e capacitadas, sendo assim profissionais de qualidade no mercado imobiliário. Só assim teremos mais vozes dentro do Conselho para nossas demandas especificas”, finalizou.
Marco histórico
No dia 29 de janeiro de 2004 foi organizado, em Brasília, um ato nacional para o lançamento da campanha “Travesti e Respeito”. Desde essa data é comemorado o dia da visibilidade trans, marcado por um momento histórico do movimento contra a transfobia e na luta por direitos.