Juros alto deixa comprador de imóvel mais cauteloso, mas mercado segue aquecido

Por Rômulo Soares


Com taxa Selic em 14,75%, consumidores adiam decisões de compra e incorporadoras adaptam estratégias, mas setor imobiliário mantém fôlego com apoio de fatores estruturais.

Apesar da taxa básica de juros elevada — atualmente em 14,75% ao ano — o mercado imobiliário brasileiro mantém um ritmo de atividade surpreendentemente firme. A alta dos juros encarece o crédito, o que torna o financiamento de imóveis menos acessível para muitos consumidores. Ainda assim, o setor não dá sinais de retração significativa, apoiado por uma demanda estrutural consistente e ajustes estratégicos das incorporadoras.

Cautela do comprador

Com o aumento do custo do crédito, o comprador adota uma postura mais conservadora. O valor das parcelas sobe, e o comprometimento de renda se torna maior, levando muitas famílias a adiarem o sonho da casa própria ou buscarem alternativas de menor valor.

“É natural que, com a Selic elevada, haja mais cautela por parte dos compradores de imóveis. Todavia o mercado não para. Em 2024, o crescimento em relação ao ano anterior foi de mais de 20%. O impacto da Selic atinge mais os imóveis de médio padrão porque estes não têm incentivo governamental. Mas ainda assim, há o recurso da portabilidade contratual, que viabiliza a renegociação dos juros a qualquer tempo. Assim, quando a Selic baixar, todos poderão renegociar suas taxas de juros. Por isso, não há o que temer”, afirma João Teodoro, presidente do Cofeci.

Ajustes das incorporadoras

Cientes da mudança no comportamento dos consumidores, as incorporadoras têm ajustado seus portfólios e condições comerciais. Há uma tendência de lançamento de unidades com tíquete médio menor, facilitação na entrada e parcerias com instituições financeiras para oferecer taxas mais competitivas.

“Estamos constantemente captando e apresentando alternativas aos clientes, a exemplo de subsídios das taxas de financiamento imobiliário beneficio exclusivo para empreendimento que utilizam funding de plano empresário junto a instituições financeiras, além da ampliação de negociações diretas com os clientes para manter a atratividade dos empreendimentos” explica Alisson Holanda, diretor executivo da NHolanda Construtora.

Demanda estrutural mantém o mercado ativo

Apesar da pressão dos juros, o setor é sustentado por fatores estruturais robustos, como o déficit habitacional estimado em mais de 5,8 milhões de moradias, segundo dados da Fundação João Pinheiro. Além disso, programas de incentivo à habitação, como o Minha Casa, Minha Vida, seguem impulsionando a base da pirâmide.

Outro ponto de destaque é o perfil do investidor. Com a volatilidade de ativos financeiros, muitos seguem apostando no mercado imobiliário como reserva de valor e proteção contra a inflação.

“Mesmo com juros altos, o imóvel ainda é visto como um ativo seguro. A combinação de escassez de oferta em regiões urbanas e a valorização no longo prazo ainda pesa na decisão de investimento”, aponta o economista Irenaldo Quintans, especialista em mercado imobiliário.

Perspectivas para o segundo semestre

Analistas do setor esperam uma leve recuperação no ritmo de vendas no segundo semestre de 2025, caso haja flexibilização da política monetária. A expectativa é de que o Banco Central comece a cortar a Selic gradualmente, o que pode reacender o apetite do comprador final.

Enquanto isso, o setor segue navegando com cautela, mas sem perder de vista as oportunidades de manter o mercado aquecido, mesmo sob pressão.